O maior obstáculo para o avanço da consciência ambiental nas cidades é, na maioria das vezes, o corporativismo de algumas empresas e a ignorância de alguns empresários dispostos a manter o status quo da cadeia dos resíduos da construção
Uma reunião com construtoras, caçambeiros e diversos departamentos da Prefeitura para tratar dos inúmeros descartes irregulares de entulho e dos problemas decorrentes disso. A reunião é tranquila com uma pauta um pouco distante da realidade dos presentes, com diálogos confusos e sem muita noção do que se fala e ouve.
A situação é diferente para a maioria dos presentes: para o representante das construtoras é impossível gerenciar e separar seus resíduos no canteiro de obras, para o transportador é inimaginável cobrar mais para o resíduo sujo ou exigir de seu cliente que pague o valor da destinação separado do transporte. para os técnicos da Prefeitura é difícil fazer qualquer coisa nessa área, mas eles estão ali apenas para passar o tempo sem muito compromisso com a questão (quem vê de fora tem a impressão que os funcionários públicos só estão na reunião porque foram designados pelo Prefeito ou pelo Secretário para resolver a questão).
Essa situação é hipotética, mas acontece corriqueiramente em todos os municípios médios do Brasil.
Pela ingenuidade do transportador, ele ainda não consegue precificar adequadamente os serviços de remoção e destinação dos resíduos. Isso reduz o valor do serviço e acostuma o cliente a pagar pouco num trabalho extremamente importante para a preservação ambiental, que é descartar corretamente.
Para o gerador do RCD, é quase impossível pensar numa solução para a destinação correta do entulho ou até para a sua reciclagem. Fazer a gestão então… xii, esquece! A vida inteira foi assim: gerar, transportar para um lugar bem longe dos olhos e jogar o entulho em qualquer lugar, sem nenhum critério ou preocupação ambiental.
Para a Prefeitura, responsável legal por controlar os resíduos da construção no município, fica a dúvida sobre o que fazer e quando, pois não dispõe de pessoal qualificado.
Para atrasar ainda mais o negócio, quando a Prefeitura resolve fazer alguma coisa, que não aquela definida nas resoluções e normas técnicas, acaba de vez com a possibilidade em reciclar ou destinar adequadamente o resíduo da construção.
As decisões do poder público são lentas, precipitadas e raramente resolvem o problema por completo. Pela natureza da organização, as Prefeituras não conseguem trabalhar com nada a longo prazo, seus administradores pensam no projeto num espaço de quatro anos, nada além disso.
Lembro-me de uma oportunidade em que um Prefeito nos ofereceu o entulho da cidade. Sim, isso mesmo, ele achava que o entulho seria vendido.
Tenho um parênteses sobre o ritual dos Prefeitos para resolver a questão do descarte irregular de entulho: eles não têm tempo pra nada e querem resolver o negócio em cinco minutos, não entendem por não haver interesse e consultam seus “especialistas” que sequer conhecem as regras do negócio.
São obstáculos de todas as naturezas e justificativas que criam prejuízos para a cidade e para o cidadão.
Portanto, considero uma revolução quando a cidade consegue regulamentar o setor de transporte de resíduos, aprovar seu plano municipal de RCD e normatizar o consumo de agregado reciclado por parte do Poder Público.
É uma revolução por romper com conceitos extremamente ultrapassados e antiquados, reduzindo drasticamente os custos públicos com remoção de resíduo descartado incorretamente e criando uma agenda ambiental na utilização de agregado reciclado em obras na cidade.
Levi Torres
Coordenador da ABRECON