Questiona-se a famosa Política dos 3R’s, que segundo o discurso oficial, hegemônico, pregado pelo Governo e empresas privadas, se resume a apenas um R, o da Reciclagem, alterando a ordem de prioridade da Pedagogia dos 3R’s conferindo máxima importância à reciclagem, em detrimento da redução do consumo e do reaproveitamento.
A ideia de consumo sustentável então não passa de comportamentos adequados diante do lixo, estimulando-se uma correta disposição dos resíduos sólidos, que facilitam sua seletividade e posterior reciclagem, porém, sem alterar os valores culturais vigentes.
Ou seja, apenas se produz um efeito ilusório nas pessoas, que podem passar a consumir mais produtos, porque agora são ditos recicláveis e, portanto, ecológicos. A reciclagem dessa forma passa a desempenhar a função de compensação do risco do consumismo.
Já o discurso ecológico alternativo, feito por ONGs e ambientalistas, prega a reflexão e aponta como solução a eliminação da obsolescência planejada para minimização dos resíduos. Priorizando assim, a redução do consumo sobre a reutilização e reciclagem.
O aspecto cultural é apontado como a raiz do problema, seja através da moda, produção capitalista e incentivo ao consumismo – marketing, deslocando assim a real função dos objetos.
A frugalidade seria uma alternativa viável de se libertar da “obrigação” de consumir, permitindo substituir a “devoção” ao consumo pela busca de outros valores, ou então, um deslocamento do consumo material para um consumo não-material, a exemplo da cultura e educação.
O aumento da vida útil dos bens, a recuperação destes, a diminuição da obsolescência planejada e a reutilização de descartados são estratégias mais eficientes do que a reciclagem, pois demandam menos energia para a conversão. Dobrar a vida útil de um produto significa diminuir pela metade o consumo de energia, o lixo e a poluição gerada.
A reciclagem pode mesmo ser o traço de união entre produção e consumo, mas é também a alienação do consumismo como fator de degradação ambiental e engrenagem dos mecanismos sociais de acumulação de capital e concentração de renda.
O discurso ecológico oficial prega que a saturação dos depósitos de lixo e o esgotamento dos recursos naturais não-renováveis serão revertidos graças à reciclagem. Mas sabemos que não é bem assim, que são poucos os bairros que fazem coleta seletiva, e, portanto, muita gente não separa seu lixo, ou se separam, nem sempre é da maneira correta (por exemplo, se não lavar os recipientes, pode contaminar os outros materiais, invalidando, assim, a reciclagem) e ainda tem a questão da disposição dos resíduos.
Por isso, de nada adiantam campanhas para reciclar e programas de Coleta Seletiva de Lixo, se não fizermos um trabalho de internalização de novos hábitos e de atitudes para que, num futuro próximo, não haja mais lixo excessivo se a sua causa, o consumismo, tenha sido controlada, porque a reciclagem vai reduzir, em parte, a crise, mas não vai eliminá-la.
A distorção de valores é o que sustenta o consumismo, se as pessoas aprenderem a serem mais simples, a darem mais valor ao natural do que o artificial, falando de uma maneira mais ampla e geral, talvez seja esse o caminho. Realmente temos muito o que aprender com comunidades tradicionais e até regredir em costumes, como no caso das sacolinhas plásticas.
A educação ambiental vem como um grande instrumento para reversão desse quadro, a criatividade também é uma grande aliada. Temos que valorizar e divulgar mais as alternativas que surgem, como: a logística reversa, refil de produtos, a “Bolsa de resíduos”, incentivar nas residências a compostagem, a ter sua própria horta, reaproveitamento de alimentos, doação de roupas, entre tantas outras práticas.
Stella Bartoli
Técnica em Meio Ambiente pelo CEFET-MG
Bióloga pela PUC-MG
Um Comentário
Parabéns Stella Bartoli, gostei muito do seu texto, é importante conscientizar que somos responsáveis pelo lixo que geramos. A foto anexada complementou com exito a sua mensagem.