O ambientalista ingênuo - Construplay

O ambientalista ingênuo

Por Construplay, em 08/08/2018

Eu me sento na frente deste computador e discorro sobre os problemas que cotidianamente as usinas de reciclagem de entulho me repassam.

Eu confesso, não tenho dificuldade para escrever sobre o setor da reciclagem de resíduos da construção civil no Brasil, uma por ser coordenar da ABRECON e outra por receber feedback constantemente das usinas via mensagens de WhatsApp e e-mails e, com certa frequência visitando algumas delas.

São inúmeros problemas, dos mais simples aos mais complexos, que tolhem o mercado da destinação de resíduos e venda de agregado reciclado. Da miríade de empecilhos que travam o setor, hoje eu vou abordar a ingenuidade das pessoas que diretamente ou indiretamente atuam nesse mercado.

Vide o “Fogo Amigo”, estratégia acéfala que algumas empresas adotam para aviltar preços do material reciclado ou rebaixar ainda mais os preços da destinação dos resíduos, degradando a qualidade dos serviços ambientais.

O mercado da destinação de RCD não é um negócio consolidado, ou seja, não se tem uma cultura na construção civil de controle da destinação do entulho. O mais habitual no Brasil é o entulho ser descartado no primeiro córrego ou rio próximo da obra. Um pouco diferente é a realidade das capitais que já contam com destino Legal para os seus resíduos, porém, destoa da grande maioria dos municípios brasileiros que sequer tem orçamento público para a gestão do entulho. É grave a situação, muito se evoluiu, e talvez por isso esperássemos que outras cidades avançassem com a questão.

Esmagadora maioria das cidades não sabe ao menos que elas devem controlar os resíduos da construção no município. Eu já testemunhei secretário municipal dizendo que não era responsabilidade dele saber onde o caçambeiro descartava o resíduo da construção. E mais, para completar a infâmia, esbravejava: não sendo aqui na cidade, está tudo certo. Risos.

Com inúmeros locais clandestinos de descarte de entulho e recorrentes crimes ambientais acobertados por licenças ambientais duvidosas, como uma usina de reciclagem de entulho consegue prosperar e estabelecer uma nova cultura na construção civil?

É ingênuo acreditar que as coisas vão mudar não dando o exemplo de comportamento e atitude.

Ainda que eu tenha experiência nesse ramo, me surpreendo a cada dia com profissionais que duvidam de prazos e preços de produtos e serviços relacionados ao setor da destinação do entulho. É incrível como essas pessoas se transformam em empresários frustrados que a cada dia pensam em desistir ou vender seu negócio.

A penumbra que assombra essa gente tem início com uma exultação da ideia, seguido de um espasmo entusiasmo. O desespero do empresário dessa estirpe chega ao ponto de trabalhar acirradamente para prejudicar seu concorrente, não enxergando uma oportunidade de união e fortalecimento do setor.

O pensamento é tacanho e pueril, não condizendo com a proposta ambiental que o negócio carrega. Por isso, é ingênuo achar que todo empresário que trabalha com resíduos é ambientalista. A credulidade no negócio e na ideia sem embasamento prático, cega e relega a reciclagem a algo impraticável e inviável.

Levi Torres

Coordenador da ABRECON

 

 

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